sexta-feira, 12 de junho de 2009

Já ouviu falar em prediction markets?


Já ouviu falar em prediction markets?
Alternativa às pesquisas de opinião, bolsa de apostas sobre acontecimentos futuros chega ao Brasil quase 20 anos depois de surgir nos Estados Unidos

Por: Ricardo Lacerda / Redação de AMANHÃ

Se você nunca ouviu falar em prediction markets, não se assuste: no Brasil, trata-se de algo ainda muito incipiente. Os mercados preditivos, também chamados de bolsas de previsões, trabalham com apostas sobre diversos tipos de acontecimentos futuros. Um dos mais antigos prediction market foi criado na Universidade do Iowa em 1989, onde os estudantes apostavam sobre quem venceria as eleições presidenciais dos Estados Unidos naquele ano.

Na ocasião, os resultados se revelaram mais precisos do que muitas pesquisas de opinião. Quase vinte anos depois, a ascensão de Barack Obama à presidência americana deu novo status aos prediction markets, já usados por grandes empresas, como General Electric, HP, Best Buy e Siemens, para antever possíveis resultados de suas ações. "Diversas companhias têm adotado essa ferramenta e chegado a ótimos resultados; é algo que está sendo disseminado", explica Audrey Peres, diretora da Mercado de Previsões, primeira empresa brasileira a trazer o conceito para o país. Ela cita o Google como case de utilização da ferramenta, pois consulta desde 2005 seu público interno sobre previsões de demandas. Por exemplo: "quantos usuários o Gmail terá até agosto de 2009?"; ou mesmo sobre desempenho: "o produto X estará pronto para ser lançado em dezembro de 2009?".

Audrey conta que trabalhava na Alemanha no começo do ano passado quando tomou conhecimento do tema ao ler um artigo da McKinsey & Company. Da leitura, surgiu a ideia do negócio. Para materializar seu projeto, a administradora conseguiu fazer com que a Mercado de Previsões se instalasse na Incubadora Tecnológica da Feevale (ITEF), em Novo Hamburgo (RS).

No começo desta semana, entrou no ar o portal www.mercadodeprevisoes.com.br, onde qualquer pessoa pode se cadastrar gratuitamente, receber um "dinheiro virtual", e apostar nos resultados de acontecimentos. As perguntas contemplam diversas áreas, do esporte à economia. "Quem vai ser o campeão da Copa do Brasil?", ou, "qual será a taxa de crescimento do PIB brasileiro em 2009?", são apenas dois dos vários questionamentos feitos no portal. Quem acerta, acumula capital (pontos, neste caso), assim como num jogo virtual.

Audrey conta que a empresa pretende fazer com que o conceito de prediction markets fique mais conhecido no Brasil e então lucrar por meio das soluções corporativas. "É uma alternativa mais barata às pesquisas de mercado", diz a executiva. A estratégia é simples: com a ferramenta (na verdade, um software), as empresas poderão saber a opinião de seus colaboradores ou do público externo (que poderá se identificar ou responder anonimamente) sobre decisões tomadas, expectativas para produtos recém-lançados, estratégias a serem traçadas, etc.

O objetivo da Mercado de Previsões é chegar ao fim de 2009 com 5 mil usuários cadastrados em seu site. Para o próximo ano, a intenção é prever de maneira acurada os resultados das eleições presidenciais no Brasil. Ao contrário do que acontece em muitos países, a legislação brasileira - tal como a norte-americana - não permite apostas com dinheiro real. "Isso seria jogo de azar", lembra Audrey. Na Irlanda, por exemplo, a prática é permitida. Lá, diz ela, fica a base do portal www.intrade.com - um dos benchmarks dos prediction markets -, cujos conteúdos estão voltados para apostadores dos Estados Unidos e da Europa. Como por aqui isso configuraria crime, o retorno financeiro da Mercado de Previsões terá que vir mesmo das soluções empresariais, comenta Audrey: "O foco é trabalhar com médias e grandes empresas, com mais de 200 funcionários, porque aí se tem uma boa base de opiniões sobre os temas de interesse escolhidos por estas organizações".

Na expectativa pelo incentivo do governo

Recentemente, a Mercado de Previsões foi aprovada na primeira etapa do Prime (Programa Primeira Empresa), da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Caso receba aprovação final - a empresa só ficará sabendo disso no final do segundo semestre, a Mercado de Previsões ganhará uma subvenção de R$ 120 mil. O destino do recurso, diz Audrey, já está definido: "Será aplicado integralmente na gestão do negócio, conforme o edital". Além de um gestor, o projeto prevê a contratação de três consultorias, para as áreas financeira, de imprensa e jurídica.

Veja abaixo alguns casos de sucesso do uso dos prediction markets, tanto com públicos internos quanto externos.

Empresa Finalidade do Prediction Market (Mercados Internos):

Hewlett-Packard - Desde 2006 prevê os preços de chip de memória dos computadores.
Best Buy - A rede varejista de eletrônicos estima a demanda por produtos (ex: setup digital boxes) e data de abertura de lojas.
General Electric - A unidade de negócios de saúde do grupo gera ideias para produtos de software para o segmento de hospitais.
InterContinental Hotels - A rede de hotéis estimula a sugestão de melhorias e de novos serviços, prioriza as ideias surgidas e avalia sua viabilidade.
Procter & Gamble - Prevê a demanda por produtos, reduzindo riscos e aumentando sua inteligência competitiva.

Empresa Finalidade do Prediction Market (Mercados Externos):

CNN - Lançou um prediction market público em seu site para prever o resultado das eleições presidenciais americanas de 2008.
Cantor Fitzgerald - O grupo de investimentos mantém o Hollywood Stock Exchange, que busca prever o desempenho da indústria cinematográfica.
Yahoo! - Mantém o Tech Buzz Game para prever tendências em tecnologia.

Segundo a Mercado de Previsões, além dos exemplos citados, diversas outras empresas, especialmente norte americanas e europeias, têm adotado a metodologia de prediction market como uma eficiente ferramenta para captar a inteligência coletiva de grandes grupos. Entre elas: USA Today, Thomson, Dentsu, Renault, Lilly, Arcelor Mittal, TNT, Masterfoods, Pfizer e Siemens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário